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Recentemente me dei conta que mais uma vez estava emigrada de mim mesma. Mais uma vez exilada de um lugar no qual me sentia abrigada, acolhida. O desterro, a diáspora, a ditadura, instalaram em mim um sentimento vivo de não pertencer a coisa nenhuma. Quase budista. Nunca vivi a doce saudade de um dia voltar para minha cidade, minha aldeia, minha família. Para alguém. Não conheço a sensação de raízes, de comidas de vó, de domingos, de férias sonhadas em sítios, no interior. Não tenho memórias de família a não ser alguns breves momentos que acabaram antes que eu pudesse me acostumar a eles.…mehr

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Produktbeschreibung
Recentemente me dei conta que mais uma vez estava emigrada de mim mesma. Mais uma vez exilada de um lugar no qual me sentia abrigada, acolhida. O desterro, a diáspora, a ditadura, instalaram em mim um sentimento vivo de não pertencer a coisa nenhuma. Quase budista. Nunca vivi a doce saudade de um dia voltar para minha cidade, minha aldeia, minha família. Para alguém. Não conheço a sensação de raízes, de comidas de vó, de domingos, de férias sonhadas em sítios, no interior. Não tenho memórias de família a não ser alguns breves momentos que acabaram antes que eu pudesse me acostumar a eles. Nasci em Milão por acaso, porque meus pais tiveram a "sorte" de serem enviados para um campo de concentração no sul da Itália. Sou brasileira porque tive a sorte de meus pais emigraram para cá e aos dezoito, jurei bandeira e cantei o Hino Nacional. E consegui uma língua materna: o português. Minha Mãe Inventada é o relato de uma família em que a mãe se recusa a tocar em certos assuntos. O esfacelamento da sua vida calou sua boca. Teve de seguir adiante, refazer, desfazer. Eu lhe pedia que me contasse alguma coisa, ela repetia até onde podia. E então se levantava e voltava para a realidade. Para mim restaram algumas imagens de Viena, alguns nomes dos meus tios, nada mais. Porém não escapei ilesa desse imenso sofrimento. Até hoje, quando penso nos abandonos pelos quais passei criança, adolescente, adulta, tenho certeza que boa parte da minha capacidade de superação é baseada no exemplo deles. Vou em frente, encontro uma razão para superar a dor, reduzo o tamanho do golpe. Mas sei que a sensação de soco do estômago aparece sempre que penso na minha mãe perdendo a sua. E atravessando o Atlântico. Meus pais sem qualquer família e eu só com eles. Quanto mar, tanto medo.

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Autorenporträt
Nascida em Milão, naturalizada brasileira, cursei Filosofia, na USP. Um belo dia encontrei um grupo de pessoas filmando um curta do Djalma Limogi Batista no campus. Larguei a faculdade e passei a fazer cinema. Fiz os curtas Lacrimosa, Arrasta a Bandeira Colorida, Jardim Nova Bahia com Aloysio Raulino. Dirigi o curta Sangria com os atores Selma Egrei, Jofre Soares, Fernando Peixoto, e o longa metragem Cristais de Sangue, na Chapada Diamantina, Bahia. Em seguida estabeleci uma parceria com André Luiz Oliveira que rendeu bons trabalhos. Em 2011, dirigi o documentário de longa metragem Estados Unidos do Brasil, com o tema da identidade, o desejo de ser outra pessoa, com o Rodrigo Teaser que, desde criança é cover do Michael Jackson. Ultimamente trabalho nos roteiros meus e dos outros e escrevo, escrevo, escrevo. Nessas décadas de persistência e obstinação cultural, já passei por todo tipo de opressão, desmantelamento, repressão. Dificuldade sempre foi sinônimo de fazer cultura do Brasil. Resistência e utopia ainda hoje são meus refúgios nas constantes tentativas de nos destruir. Acompanho desde jovem o Cinema Novo, o Tropicalismo, o Cinema Underground, o Teatro Oficina, o Teatro Arena, o novo cinema, os grupos de teatro, a literatura brasileira e meus projetos ainda giram sobre os mesmos temas: como arranjar a verba, como burlar a censura seja ela política ou econômica, como conciliar as mais variadas narrativas, temáticas, estéticas. Mas suspeito que o desejo de liberdade sempre estará presente, sempre orientará minhas escolhas.