Tertúlia Poética com o Tempo (eBook, PDF)

Arari em minha vida

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VERSOS PREAMBULARES Vivi uma vida extraordinária de eventos. E como ninguém me comporá a biografia, Fá-lo-ei eu próprio, Neste sincero caderno de poesia. Versifico quatro fatos históricos, Que vi emanarem traiçoeiros E tantas vesânias provocarem: A Covid-19, duas guerras E o Oito de Janeiro. Nestes papiros floridos, Ressalto minha Carolina mais querida - E falo d'outras, que me surgiram na vida... Tive tempo de com o tempo Dialogar longamente, E tais tertúlias aqui compartilho, Prazerosamente. Dou curso à viagem imaginária Que fiz a bordo da Voyager-1, planetária, Versificando o pe...

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Depois de pronto este livro, senti anseio de mais dizer além do exposto nos versos. E para mais acrescer à obra, achei por bem ocupar este espaço. Ao longo de nossos passos, geramos floreios bastantes para produzir inúmeras crônicas, diversos poemas, alguns livros e até um filme. Prosseguindo em minhas horas notáveis, enchi um oceano com fatos memoráveis... Mas as minhas memórias de acampar, no entanto, não ganharam a unanimidade familiar, porquanto algumas delas não receberam o amém da estrela mais brilhante, outras não passaram no crivo de diletos amigos, e umas desagradaram a religiosidade de alguém. Somando esses vetos todos - e se eu saísse do texto arrancando páginas, capítulos ou excluindo poemas ou modificando versos - meus textos nem dariam o livro que, confesso, tanto queria publicar! A perda histórico-bibliográfica para mim seria mui sentida. Então decidi manter tudo da forma querida (quod scripsi, scripsi), porque em verdade esta obra é daquelas feitas para adornar a predileta estante do autor, o qual feliz ficará com todos e todas que apreciarem o compêndio. Tenho ardente apreço pelas páginas que escrevi em meu livro da vida. A elas sempre retorno para sentir aquela brisa suave, que chega e me refresca inteiramente. Em secreto, no rosto até esboço um ar de sorriso, quando revisito aqueles paraísos, nos quais dei e recebi tantos afetos. Tudo qu'eu fiz pertence a um pretérito mais-que-perfeito; vejo os eventos como conquistas de efeito que obtive na rara oportunidade de desfilar nesta passarela curta que é a vida. Então eu sonhei, me diverti, trabalhei, li, amei, viajei e quase morri... Ter amado sempre que foi possível amar encheu-me a vida de alegria. Já posso até deixar o salão de festas, por estar pleno da própria historiografia, produzida ao longo de seis décadas. Não desejo o enfado da vida eterna nem quero ser a testemunha imortal de um mundo que se torna cada dia mais estranho e exclusivo. Tive começo e meio, e preciso ter fim, mas no dia exato, que não é o dia destas horas tranquilas, nas quais ainda cultivo belas flores em meu jardim. Parte da minha história está enleada na da cidadezinha chamada Arari, interior do Maranhão; ali, seminu, eu corria pelas ruas e campos, como se a cidade inteira fosse o quintal da minha casa; lá, fiz um milhão de amigos e pratiquei os mais diversos lazeres, que as gerações recentes não têm deles os devidos saberes. Estendi a juventude até a undécima hora. Sabia que o fluir dos anos a levaria embora e deixaria pelo caminho apenas um idoso de muitas ambições já satisfeito, com seus carnavais já dançados e da maioria das gentes agora receoso... No quadrante final desta energia, mais atenção dou à melhor literatura, essa formidável criatura que, na dança das palavras, produz o glorioso concerto poético dos textos apaixonantes. Meus dias calmamente amanhecidos não carregam mais o estresse universal, que faz o mundo adoecer e passar mal. Superadas seis décadas repletas de vigor, a paisagem próxima já me deixa ver o fatal desamor, mas antes que se apaguem as luzes que clareiam esta caminhada, tive tempo de ver findas estas afáveis memórias, que um dia poderão ser vistas em uma dessas nuvens perdidas nos céus dos amantes da leitura... Hilton Mendonça é advogado formado pela Universidade Federal do Maranhão. Vive na capital maranhense e na bela Arari/MA.